Vida de Maria (XIV)
As bodas de Caná



Em Caná encontramos juntos Jesus e a sua Mãe. Ali, por mediação da Virgen, Cristo realizou um milagre que deu felicidade a uns recém casados.

Ao terminar o longo período de Nazaré, o Senhor começou a pregar a chegada do reino de Deus. Todos os evangelistas registam o primeiro ato desta nova etapa: a receção do batismo que o Precursor administrava nas margens do Jordão. No entanto, só São João assinala a presença da Virgem nesses começos da vida pública: três dias depois — anota — celebrava-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus com os Seus discípulos foi também convidado para a boda (Jo 2, 1-2).



"PARA ALÉM DO FACTO HISTÓRICO DAS BODAS, JOÃO SALIENTA QUE A PRESENÇA DE MARIA AL PRINCIPIO E NO FINAL DA VIDA PÚBLICA DE JESUS OBEDECE A UM DESÍGNIO DIVINO".



A maior parte dos estudiosos afirma que essas bodas são um símbolo da união do Verbo com a humanidade. Os profetas tinham-no anunciado: selarei convosco uma aliança eterna (...). Nações que não conhecias correrão para Ti (Is 55, 3.5). E os Padres da Igreja tinham explicado que a água das talhas de pedra, preparadas para a purificação judaica (Jo 2, 6), representavam a antiga Lei, que Jesus vai levar à perfeição mediante a nova Lei do Espírito impressa nos corações.

A nova aliança prometida no Antigo Testamento para os tempos messiânicos anunciava-se com a imagem de um banquete de casamento; abundaria todo o tipo de bens, especialmente o vinho. É significativo que, no relato de São João, precisamente o vinho tenha grande protagonismo: é mencionado cinco vezes e afirma-se que o que Jesus fez surgir com o Seu poder era melhor do que o que começou a faltar (cfr. Jo 2,10). É também notável o volume de água convertida em vinho: mais de 500 litros. Esta superabundância é típica dos tempos messiânicos.
Mulher, que nos importa isso Mim e a ti? Ainda não chegou a Minha hora (Jo 2, 4). Qualquer que seja o significado exato destas palavras (que, além disso, estariam matizadas pelo tom da voz, a expressão do rosto, etc.), torna-se claro que a Virgem não perde a confiança no Seu Filho: deixou o assunto nas Suas mãos e dirige aos servos uma exortação — fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2, 5) — que são as últimas palavras Suas recolhidas no Evangelho.

Nesta breve frase ressoa o eco do que o povo de Israel respondeu a Moisés quando, da parte de Deus, pedia o seu assentimento à aliança do Sinai: faremos tudo o que o Senhor nos disse (Ex 19, 8). Aqueles homens e mulheres foram muitas vezes infiéis ao pacto com o Senhor; os servos de Caná, pelo contrário, obedeceram com prontidão e plenamente. Jesus disse-lhes: — Enchei as talhas de água. Encheram-nas até cima. Então Jesus disse-lhes: Tirai-o agora, e levai ao chefe de mesa. Eles levaram (Jo 2, 7-8).

Maria depositou a sua confiança no Senhor e antecipa o momento da Sua manifestação messiânica. Precede na fé os discípulos, que acreditarão em Jesus depois de realizado o prodígio. Deste modo, a Virgem colabora com o seu Filho nos primeiros momentos da formação da nova família de Jesus. O evangelista assim o parece sugerir, concluindo a narração com as seguintes palavras: depois disto desceu a Cafarnaum com a Sua mãe, Seus irmãos e Seus discípulos; mas não se demoraram lá muitos dias (Jo 2, 12). Já está tudo preparado para que o Senhor, com o anúncio da Boa Nova, com as Suas palavras e as Suas obras, dê início ao novo Povo de Deus, que é a Igreja.


J.A. Loarte